Estava revisando um texto e

Estava revisando um texto e uma expressão falada por uma das personagens disparou uma seqüência de memórias. Sabe aquelas viagens sonhadas de olhos abertos? Para mim são tão intensas que, quando terminam, eu me sinto como se tivesse envelhecido.
A expressão usada no texto foi “Já, eu disse!” e era usada com muita freqüência pelo responsável pela disciplina no Colégio Medianeira, em Curitiba, onde estudei por onze anos, até 1979. Colégio de Jesuítas, muita missa, muita disciplina, muita repressão. Mas a cultura geral que apreendi lá formou a base do que sou hoje, e por isto sou grato.
O autor da expressão era o Professor Savério (não me recordo o sobrenome). Fazendo uma revisão daqueles tempos, quando penso nele lembro de três coisas: sua voz, alta, assustadora, ecoando pelos corredores do colégio; seu sotaque, que depois de tantos anos eu não consigo mais identificar a origem, mas era meio quebrado, batido; e o fato dele sempre estar com um livro na mão.
Gosto de pensar que minha ligação com os livros vem de casa, da influência da minha família. Mas agora, analisando mais detidamente o passado, lembro do Prof. Savério insistindo para que tivéssemos ao nosso alcance, em todos os momentos, sempre, um livro. Lembro bem de uma imagem dele: parado na porta da saída para o pátio, paletó xadrez, calça marrom, cabeça redonda, lábios onde nunca vi um sorriso, meio calvo com os poucos cabelos que pareciam esculpidos em um gel qualquer… mas com um livro na mão.
Impróprios eram seus gritos, mas apropriada a tentativa de nos incutir o hábito da leitura. Errada a forma, correta a intenção. Mas isto aconteceu lá para os idos de 1975 e hoje em dia, tenho sempre um livro (pelo menos) comigo. Independente da fórmula que o Prof. Savério utilizou, tantos anos depois, ela ainda funciona. E, no final das contas, o resultado foi positivo.
São engraçadas estas figuras do nosso passado. Um monstro… carrasco… sacana. Conheço muita gente que esvaziou(amos) os pneus do carro dele. Mas hoje, acho que devo um pedido de desculpas e um agradecimento. De qualquer forma, cabe a pergunta: e você? Quem foi o seu Prof. Savério?

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