Razão & Emoção

Recebi um email de uma fotógrafa amiga minha e, depois da assinatura, constava a seguinte divisa:
DUX VITAE RATIO
Tradução da expressão latina: A razão é a guia da vida.
Acredito nisto. Cada vez mais. A razão deve ser a guia. Concordo plenamente com Clarence Darrow quando afirma:
I am an agnostic; I do not pretend to know what many ignorant men are sure of.
Se é que existe uma divindade, independente de seu formato, natureza ou manifestação, não podemos e não devemos jamais ser cegos a ponto de permitirmos que outros seres humanos se intitulem os intermediários entre a divindade e nosso anseio por melhorarmos como seres humanos.
Estava escrevendo a frase anterior e pensando que pastores, padres, rabinos, mulás, pagés, benzedeiros (estão todos na mesma categoria) são pessoas que se acham mais dignas de serem usadas como veículo para a manifestação divina. E eu não. Nem você.
Quem lhes deu este direito? Todos os cegos que não têm capacidade de tomar as rédeas de suas vidas e que precisam de alguém que lhes diga como viver. Jamais vou esquecer o dia em que estava dando uma aula de legislação e ética em jornalismo e estávamos discutindo a intolerância religiosa. Uma aluna perguntou qual era minha religião. O diálogo foi mais ou menos assim:
Eu – Não tenho religião. Sou agnóstico.
Ela – Você não acredita em Deus?
Eu – Não foi isto que eu disse.
Ela – Foi sim. (irritada)
Eu – Eu disse que sou agnóstico.
Ela – Então? Não é isto?
Eu – Não. Ateu é quem não acredita em uma divindade.
Ela – Então? Então? Você disse que não tem religião.
Eu – E é a mesma coisa?
Ela – Claro.
Eu – Não é não. Eu “gosto de acreditar” que existe “alguma coisa” superior. Mas o que é esta coisa, eu não sei. E não admito que uma pessoa se coloque entre “aquela coisa” e eu.
Ela – …
Eu – Entendeu?
Ela – Mas e quando você precisa “falar com alguém” (ela fez as aspas com as mãos), como você faz? Você não reza?
Eu – Não.
Ela – E como você faz quando precisa falar com alguém? Quando precisa ser escutado?
Eu – Falo com meus amigos.
Ela – Mas, mas… (indignada) e quando você quer alguma coisa? O que você faz?
Eu – Eu trabalho.
Ela – …
Está ficando cada vez mais claro que precisamos repensar nossa relação com a(s) divindade(s) e o papel que permitimos que as ditas autoridades eclesiásticas representem na nossa vida.
Há poucos minutos começou a primeiro jogo do Brasil na copa de 2006. Minha vizinhança está mergulhada no mais profundo silêncio. Estou ouvindo baixinho “Smoke gets in your eyes” com Keith Jarrett ao piano e pensando que se a seleção ganhar a copa, o PT vai ganhar todas as eleições país afora. O povo, este pobre povo, vai esquecer o PCC, o mensalão, as sujeiras desta esquerda velha e decadente. Vão esquecer o MST e o MSLT que invadiu e depredou a Câmara, em Brasília.
Se qualquer “joule” de energia que eu tivesse sobrando ajudasse, torceria para o Brasil perder. Nós elegemos os pulhas que estão em Brasília. O país não merece festejar. Merece, sim, penitência.
É razão demais? É racionalizar demais querer assumir meu destino? Claro que não. O que não aceito é que alguém, com menos preparo e experiência de vida do que eu, afirme ter o monopólio da verdade, do futuro e da esperança.
Sei. Não se preocupe, eu sei. Só com a razão não se faz nada. E é esta a “razão” pela qual jamais esqueço meu coração. Se a razão é a guia, o coração é a luz que tinge o caminho de lucidez, beleza e esperança. Os dois associados são mais fortes.
Logo, meu coração, especialmente em momentos assim, se sente mais forte. Com mais “razão”.

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2 Responses to Razão & Emoção

  1. Rafa says:

    Oi Amigo…. Hehehehe nada na vida é por acaso! E todas as pessoas que entram em nossas vidas tem um motivo, uma razão! Sempre aprendemos muito com elas! Você é assim… a cada dia aprendo mais contigo amigo! OBRIGADA! E realmente, a razão guia… o coração? Ahhhh no meu só espaço pra família e para os poucos amigos, como vc! Beijo no coração!

  2. Cleusa says:

    O povo brasileiro na sua maioria, parece estar confortavelmente conformado com os absurdos dos governantes.
    “Ou somos nós mesmos ou não somos coisa nenhuma. E para ser si mesmo é preciso um trabalho de mouro e uma vigilância incessante na defesa, pois tudo conspira para que sejamos meros números, carneiros nos vários rebanhos. (…) Há no mundo ódio a exceção e ser si mesmo é ser exceção.”
    Jazz com Keith Jarrett
    &
    Literatura com Roberto Freire
    Que os eleitores brasileiros lessem esse trecho fixando sua Razão & Emoção em: É trabalho de mouro, é vigilância incessante na defesa, e se transformassem numa maciça “exceção” na próxima eleição!
    Mas com toda minha Emoção desejo o HEXA!
    Já que enfeitiçados parecem estar os eleitores brasileiros…

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