Endoscopia

A Nancy e eu estamos fazendo dieta há muito tempo. Mas agora, finalmente, estamos nos aproximando do final da fase de perder peso para aquela em que deveremos manter o peso atingido. Tudo bem. Vamos conseguir.
O problema é que baixei de 121 para 95 kg (o que para minha altura e compleição é quase bom) e agora o corpo está mudando. O primeiro resultado desagradável foi uma “remexida” nos órgãos internos que originou uma dor muito forte no peito. Muito forte. Quando ela resolvia dar o ar da sua (des)graça, tirava o fôlego e irradiava até o pescoço e pelo braço esquerdo. Achei que o coração “véio de guerra” estava pifando. Mas ficou no achar.
A remexida desaguou em outra área do peito. Não chegou a gerar uma hérnia de hiato (condição em moda hoje em dia) mas fez com que o laudo da minha endoscopia, que tem a impronunciável indicação técnica de “videoesofagogastroduodenoscopia”, acusasse:
Transição epitelial esôfago-gástrica 1,5 cm acima do pinçamento diafragmático, sem caracterização de hérnia hiatal. Observamos erosão longitudinal pequena, única, em terço distal de esôfago. Estômago e duodeno sem alterações. Conclusão: esofagite erosiva distal leve – Grau I Savary
O exame em si não foi tão ruim como eu imaginava. Pelas histórias que sempre ouvi tinha a impressão que ao entrar na sala de exames seria imediatamente levantado do chão por dois daqueles guarda-costas de ternos pretos de risca de giz e óculos escuros. Na minha versão do exame, criada por depoimentos de amigos e familiares, a coisa seria um verdadeiro pesadelo protagonizado por mafiosos.
Eles me arrastariam para uma salinha escura, no porão no hospital, do lado das caldeiras. Húmido, abafado. Iriam acorrentar meus braços na parede e enfiar algo parecido com um cabo de vassoura pela minha garganta abaixo. Já estava me vendo, com 80 anos de idade, descrevendo o trauma para uma psiquatra entediada.
Tudo bobagem. Entrei em uma clara e arejada (ar condicionado) sala de exames com aquela parafernália toda do lado de uma mesinha que, para variar, era pequena para mim. Ouvi o invariável “cuidado para não cair para o lado de lá”. Tomei uma gororobinha cor de rosa que a enfermeira, em um tom excessivamente “atencioso-profissional” disse ser “um remedinho para o estômago”. Sabe Deus o que era aquilo, mas tinha um gostinho doce. Meio “amorangado”. Depois ela veio com uma spray azul, com gosto de remédio de dentista pré-cirurgia. Explicou que aquilo deveria anestesiar a garganta. Cinco esquichadas seguidas de um “pode engolir” e mais cinco esguichadas.
“Agora o senhor pode se deitar aqui na mesa de exames. Fique deitado de lado, virado para cá. E (putz, claro!!) cuidado para não cair para o lado de lá”.
Ajeitei (equilibrei) o corpo da melhor forma possível e fiquei ali, sentindo a boca e a garganta adormecer, antevendo que iria começar a babar por tudo. Ouvi então: “levante a manga do braço esquerdo que a gente vai aplicar um sedativo leve, ok”?
A seringa parecia ter uns 16 metros de comprimento e estava na metade da aplicação quando as coisas começaram a ficar diferentes. Os sons tinham um eco, como se eu estivesse no fundo de uma piscina. As luzes eram fortes. Os movimentos das pessoas eram entrecortados e pareciam distantes.
Lembro de ter ouvido: “Não vai dar. Não vai dar”. Ao que tudo indica me informaram errado o tempo que deveria ficar em jejum. Tiraram aquela bagaça de dentro de mim e enquanto me carregavam para uma salinha com uma monte de gente literalmente “chapada” a enfermeira disse: O senhor vai ter que fazer de novo. O tempo de jejum não foi suficiente.
Fiquei ali com os outros companheiros de infortúnio esperando passar um pouco o efeito do sedativo. Mais ou menos uma hora depois e enfermeira voltou e disse que precisava marcar outra hora. Eu ainda estava meio zureta, me segurando na Nancy e marcamos para as 13 horas. Voltamos para casa e eu simplesmente apaguei. Acordei 12:30 e voltamos para o hospital.
Gororobinha amorangada, spray azul, ficar equilibrando na mesa e veio de novo a seringa de 16 metros. Só posso dizer: W O W !!! Foi uma viagem. Não chegou a ser uma bad trip, mas não foi também um passeio no parque. Claro, estavam enfiando aquela p… daquele tubo pela minha garganta abaixo.
Mesmo meio grogue a gente sente. Mas o tal do “sedativo leve” não é tão leve assim. Lembro de flashes. Sentindo ânsias. Gente me segurando, decerto para “não cair para o lado de lá da mesa” e uma voz de homem dizendo “agora tá bom… tá acabando… tá acabando…. fique calmo… tá acabando”.
Lembro claramente que olhei para o monitor e vi o que eles estavam vendo, ou seja, eu por dentro. Das poucas coisas que me lembro foi pensar “cacete, melhor não ficar olhando esta m…”. E logo depois estava na sala com os outros egressos do mundo do “sedativo leve”.
Mais uma hora e estava saindo de lá, zuretaão. A Nancy me olhando meio de lado, preocupada atendendo para eu não rolar rampa abaixo. Voltamos de táxi, mas não lembro de nada do percurso até em casa. Não lembro do que comi nem o que fiz a maior parte daquela tarde.
Quando fomos ler o laudo, ficou tudo explicado no item intitulado “Recomendações aos pacientes que receberam sedação”. Diz lá: A medicação utilizada para a realização da sedação (benzodiazepinico Diazepan EV) pode causar amnésia após o procedimento endoscópico.
A Nancy estava me cuidando, mas acho que além de paracer que tinha tomado todas, não fiz nem disse muitas bobagens. Pelo menos não tenho nada grave e só preciso fazer um tratamento simples para curar a esofagite. Menos mal.

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6 Responses to Endoscopia

  1. Uau, que viagem! Esse negócio de endoscopia deve ser terrível, eu não queria estar na sua pele. Não consigo me imaginar fazendo um negócio desses, pois só de escovar os dentes às vezes já me da ânsia… Mas que bom que não é nada grave. Cara, se cuida e um grande abraço!

  2. kadu says:

    Voces podem não acreditar, mas eu fiz esta coisa a seco, pois eu tenho medo de sedação. Prefiro ver o que está acontecendo, n~`ao tenho ansia, enfrento numa boa. Gostaria muito de ter coragem de me sedar, porém não me imagino tomar esta injeção para apagar.

  3. Fernanda! says:

    Oizinho pra vcs!!! eu só vim falar que esses dias fiz endoscopia e não achei esse bicho di 7 cabeças que tanto falam! não vi nada, não senti nada!!!!! fui sedada numa boa, e qd acordei tava bem grog. Tomei café com bolacha dipois e acabei vomitando, eca!!! (não era pra ter feito isso)! o médico nem me falow nada!mas beleza! bom no finzinho das contas deu que tenho esofagite erosiva + gastrite antral (nossa), já to morrendo di medo do nome, imagine do que é!!!! aiaiaiaia… agora vou me tratar!!!!e ver se melhoro!!!! hahahahah….bjus

  4. Mariana says:

    Olá, tenho 20 anos, sou estudante de Jornalismo e tb fiz a endoscopia e foi bem traqüilo o exame. Agora foi constatado que tenho hérnia de hiato, esofagite e gastrite moderada. Passarei por uma videolaparoscopia em fevereiro/03 e espero melhorar e muito, pois venho sofrendo há uns 2 anos com os sintomas desses problemas.
    O diagnóstico é fundamental sempre e o exame, como disse a colega logo abaixo, não é um bicho de sete cabeças.
    Abraços!

  5. slash says:

    ñ fiz e ja estou com medo , `n vejo a hora dessa tremenda dor passar , ñ sei o que faço , o exame ou saio correndo para bem longe daqui antes de quarta …

  6. Agnos says:

    Legal eu ter achado esta página. Fiz uma videoendoscopia hoje (o nome é mais complicado que isso, mas esqueci qual é). Bem, um dia antes eu conversei com um “amigo” que me passou a idéia que o exame seria como uma máquina medieval de tortura, pelo terror que ele me passou.
    Realmente não teve nada a ver. Eu possuo um certo medo de injeções, e confesso que esse foi meio pior medo. Fui com meus pais, mas preferi que eles me esperassem na sala de espera e não entrassem comigo, porque eu suspeitava que o exame fosse muito ruim para quem visse e não estivesse acostumado. E acharia péssimo fazer o exame com minha mãe ou alguma outra pessoa fazendo expressão de espanto. Isso com certeza me assustaria mais.
    Sentei na cama. A enfermeira começou a me dizer para ficar relaxado e respirar fundo.
    Fiz algumas perguntas para ela, sobre o que acontece se eu tossir durante o exame, se tenho que respirar só pelo nariz etc. Ela foi muito atenciosa e me disse que não tem problema tossir durante o exame, mas que era para eu procurar evitar isso e que era para respirar pelo nariz sempre, durante o exame.
    Ela pingou umas gotas de uma bisnaga e me mandou engolir. Era um tipo de anestesia. Depois de uns 2 minutos ela borrifou um spray na minha garganta e este não era para engolir, era para segurar na garganta por uns 2 minutos, e depois então cuspir. Mais uns 2 minutos e ela me fez deitar na cama de lado, exatamente da forma que ela estava me orientando. Até as pernas tinham que ficar em determinada posição para o exame. Ela estava me perguntando como eu estava sentindo minha garganta e língua, respondi que não as sentia muito mais. Estiquei o braço, exatamente como ela me disse, e aplicou a injeção com o sedativo. A agulha era finíssima e curta. Foi sem nenhum problema. Só senti uma picada no início. O sedativo realmente faz efeito rápido, mas nem cheguei a ficar “tonto” ou ouvindo e vendo diferente, apenas fiquei bem calmo, talvez não o suficiente, mas esse foi o efeito.
    Bom, ela chamou o médico, e ele chegou muito paciente e atencioso (ainda bem!). O tempo todo eles estavam me dizendo para eu respirar fundo e relaxar porque eu não tinha motivos para me preocupar. Após uns 5 minutos, deitado na cama, ela me cobriu os olhos com um pano leve e me mandou morder uma mordedura de borracha rígida(acho que era isso) com força e não soltar, para deixar minha boca constantemente aberta. O médido me disse para colocar minha língua para dentro, pois eu não estava mais sentindo ela e estava para fora, sem querer. Depois de 5 segundos(sim, cinco segundos) o doutor me disse: “O exame já está sendo realizado e está correndo tudo bem. Dentro de alguns minutos acabaremos, fique tranquilo.” E eu nem tinha percebido que já tinam enfiado um tubo de meio metro goela abaixo. Depois que ele falou isso parece que fiquei um pouco mais ansioso e tive um pouco de ânsia nervosa, comecei a querer engolir e minha respiração aumentou muito o ritmo, mas tanto o médico quanto a enfermeira me passaram muita segurança e estavam me dizendo o tempo todo: “Fique tranquilo, respire fundo, não tem motivo para se preocupar. Respire fundo e relaxe.. isso.. muito bom.. O exame está indo muito bem… etc etc” Logicamente eu sentia uma coisa na garganta, mas não foi nada insuportável e o melhor: sem nenhuma dor sequer. Passei a respirar mais rápido e fundo e isso me ajudou a ficar menos tenso durante o exame. Durante todo o exame eles me diziam para não engolir, mas isso foi impossível de obedecer, mas não tive problemas quanto a isso também. Engoli algumas vezes e nessas horas eu sentia mais o tubo, mas sem dor, apenas com um incômodo mais forte quando eu fazia isso.
    Quando foi colhido material do estômago, senti uma leve fisgada na barriga, mas foi coisa insignificante.
    Depois de uns 2 minutos decorridos do exame, me tiraram a venda dos olhos, mas me pediram para ficar de olhos fechados (certamente porque perceberam que eu estava meio tenso, e de fato estava, apesar do sedativo).
    A pior hora, por incrível que pareça, foi quando tiraram o tubo. Quando a ponta estava passando pela garganta o médico me pediu para prender a respiração um segundo. Senti uma ânsia forte e cheguei a babar um pouco, mas isso é coisa normal, eu imagino. Contudo, o motivo disso foi o nervosismo meu, segundo o médico. Afinal não é todo dia que enfiam um tubo de meio metro goela abaixo(ele devia ter 1 cm de diâmetro, pelo que calculei, ou seja, era “fino”).
    Concluindo, não é uma máquina de tortura, não é uma coisa insuportável, principalmente pelo tempo que é bem curto e principalmente também se o médico for atencioso e compreensivo. Acho que o mais importante é escolher um bom médico para se fazer esse exame, de preferência numa clínica ou hospital com um bom equipamento.O tempo de exame propriamente dito não chegou a 10 minutos. Depois de tudo fiquei super aliviado e contente. O resultado foi uma gastrite leve, facilmente tratável.

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