Tenho orgulho de ser brasileiro?

É uma pergunta que me faz pensar. Lembrei de um sábado à noite, ano passado, em pleno governo FHC, em casa. Eu estava “estudando” um show de uma boy band qualquer na MTV. Em um intervalo, foi exibida uma propaganda do Governo Federal sobre “ter orgulho do Brasil”. Mostravam, possivelmente em algum ponto da Amazônia, um avião sobrevoando um rio no meio da mata. Em seguida Maracanã lotado; Teatro (esqueci o nome) de Manaus; criança em um balanço com a bandeira brasileira na mão; Jardim Botânico em Curitiba, Cristo Redentor, edifícios na Avenida Paulista, praias do Nordeste e de SC, ponte Rio Niterói, churrascada e gaúchos. E claro, samba, muito samba. A propósito, odeio este estereótipo.
A propaganda era uma bela e bem acabada seqüência de cenas do Brasil inteiro, para que nenhum de nós se sentisse excluído. É o “país continente” exibindo todas as suas riquezas naturais e algumas de suas mais belas obras arquitetônicas.
Mas o maior peso da propaganda não recai sobre o que brasileiros fizeram para o Brasil ser o que é hoje. Praias, Cataratas do Iguaçú, rios em florestas não foram feitos por nós. Foram feitos (na falta de um nome ou termo mais apropriado) por Deus. E do que é que estamos nos gabando? Estamos levando o crédito pelo trabalho de um terceiro, que ao que tudo indica, só estava sendo gentil, amoroso e bom.
E nós? Do que é que nós, nascidos do lado de dentro de nossas fronteiras, podemos nos gabar de estar fazendo? Você se orgulha de ter nascido aqui? Se a sua resposta foi “não”, o que é que você está fazendo para mudar isto?
“Mas estes políticos são uns ladrões, safados…” . Claro que são. E você tinha dúvida quando votou naquele que você votou? Não se iluda. Nem ele se salva. Não importa se ele é da linha do “rouba mas faz”. O que importa é que ele rouba e não que ele faz. Assim, esqueça esta coisa de confiar em político e pare de depositar o seu (o nosso) futuro nas mãos e na (falta de) consciência e moral de uma pessoa que você não conhece.
Faça a sua parte. Dê o exemplo. Em cada ato que você praticar na sua vida pense na sua conseqüência. Tudo está encadeado. Tudo faz parte do todo. Se você nâo xinga o motorista que, sem querer deu uma fechada, o problema parou ali. Se você persegue o cara e envolve a mãe dele no problema, você deixou de fazer a sua parte.
Se você estuda para uma prova, orgulhe-se. Tire uma nota boa e vê para casa mais cedo no final do ano. Se você cola, você até sai da escola, mas você vai carregar este peso com você o resto da sua vida, pois o banco escolar que você está (estava) usando, poderia estar sendo ocupado por outra pessoa, que faria melhor do que você. Que pelo menos poderia estar tentando fazer melhor.
Se no mercado dão dinheiro a mais no troco, você devolve ou fica com ele? Devolvendo, estufe o peito. Se orgulhe. Pegando o dinheiro, não pense que você lesou um conglomerado multinacional de alimentos, mas sim que aquela pessoa do caixa é que vai ter que repor a grana que provavelmente não fará a menor diferença para você.
Você bebe nos finais de semana e sai zoando pela cidade? Briga e depois nem lembra porque brigou? Fura sinal? De madrugada você acelera e sai cantando pneu em sinaleiro de área residencial? Esvazia extintor de incêndio em travesti? Xinga prostituta? Quebra orelhão? Que prazer você tem nisto? Coloca bomba em caixa de correio? Você se orgulha de chegar na segunda-feira na escola, trabalho ou faculdade e contar que fez estas coisas? Cara, não se orgulhe. Você não tem motivo.
Não acho que precisamos passar todos os finais de semana em asilos, leprosários e favelas. Se bem que pelo menos às vezes fazer isto ajudasse a moldar o nosso caráter, mas vamos pensar um pouco mais nas pessoas que estão à nossa volta. E não pense que o político que você votou pensa em você ou lembra que vc existe. Ele está concentrado naquela coisa que está engordando: a conta bancária. Quanto a vc, pense naquela pessoa que está perto. No cara que pega todo dia, no mesmo horário, o mesmo ônibus com você. No seu colega de sala. No menino que traz a correspondência na sua firma. Pense na sua família. Faça a sua parte.
Antes de nos orgulharmos de ser brasileiros, ou paranaenses, ou curitibamos, ou desta ou daquela família, vamo-nos orgulhar de ser humanos. Mas para isto, sejamos humanos. Lembre do que um grande filósofo já disse: quando se morre, o único “título” que a gente “leva” conosco, é o de homem bom. Todo o resto fica aqui.
É claro que minha respiração fica curta e rápida quando vejo imagens de esportistas agitando a “nossa” bandeira. É claro que desejo que o Barriquelo ganhe. É claro que ver a seleção (de qualquer modalidade esportiva) ganhar me faz bem. É claro que torço pelo Guga. É claro que quero ser feliz, ter um pouco de dinheiro sobrando no final do mês, viajar de vez em quando, beber cerveja com os amigos, saborear um bom vinho naquele bom restaurante, trocar de carro (pelo menos de vez em quando), comprar DVDs, ter livros, dar presentes… mas fico pensando se me orgulho do que faço. Eu tento. Às vezes dá vontade de perseguir aquele motorista que me deu a fechada. Que pensar então da quarta ou quinta pessoa que fez o mesmo nos últimos 50 minutos? Claro. CLARO QUE SIM! Eu também sindo vontade de envolver a mãe da pessoa na confusão. E CLARO que já fiz isto. Claro que já persegui um guri inconseqüente e bêbado, uma perua absolutamente egoísta e cega para tudo no mundo. Claro que mandei gente assim para todos aqueles lugares. Mas não me orgulho disto. Foi errado. Já persegui uma vez um motorista que depois percebi ser um grande amigo meu, que percebeu o erro e pediu desculpas. Ele pode sentir-se orgulhoso.
Sempre que você reage violenta ou agressivamente é como se a outra pessoa houvesse tocado uma nota musical e você estivesse subindo uma oitava. Todos nós sabemos que quando se xinga alguém no trânsito, ou no restaurante porque pegaram sua mesa, ou o funcionário público que fez uma bobagem, você está fazendo com que o conflito escale e, em 99% das vezes, nós NÃO estamos MESMO com intenção de provocar uma briga ou matar a outra pessoa. Só o que a gente quer é “ensinar uma lição” para a pessoa.
Porra meu, quem somos nós para querer fazer isto? Não podemos ambos estar errados? É claro que sou favorável a você lutar por seus direitos. Eu o faço, com unhas, dentes e advogados, se for necessário. Mas só quando é necessário. Coisas como discussões no trânsito, crianças chorando porque seu pai está desmaiado na calçada porque puxou briga com um cara errado, esposas brigando com seus maridos para que parem, maridos muitas vezes instigando brigas me fazem pensar: prá que? Para contar na segunda-feira para os amigos? E isto sem contar que os amigos podem muito bem estar na mesma segunda-feira no seu enterro, se você fizer uma bobagem muito grande.
Mas, resumindo, eu me orgulho. Da minha família. Da minha cidade, meu estado, meu país. De ser humano. Sim, eu tenho orgulho de ser brasileiro. E não me importa o que os políticos façam ou deixem de fazer. Se, sem conhecer a opinião da maioria, alguns deputados vão dar apoio a Saddam Husseim e esquecem de levar um intérprete… esquecem até de levar junto alguém que fale inglês para o encontro com outros políticos europeus, tudo bem. Se senadores roubam, vamos derrubá-los. Já fizemos isto com um presidente! Imagine como será fácil com qualquer outro “funcionário” público, seja ele presidente, vereador ou um carimbador de documentos. Mas o que temos que manter em mente é o grupo. Pense em si, mas projete para todos. Faça a sua parte. Eu conheço centenas de pessoas que estão fazendo a sua.

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