Cerveja é droga?

Sou um homem liberal. Cada um na sua. Você faz o que quiser, quando quiser, como quiser, onde quiser, com quem quiser. Mas, para usar o rei dos chavões, sua liberdade termina onde começa a minha.


Quer ouvir música? Ótimo. Quer ouvir pagode? Tudo Ok. Quer ouvir rock, blues, samba, clássicos, folk, jazz… tudo bem comigo. Não me importo. Quer ouvir debaixo da minha janela, de madrugada, com as portas do seu carro abertas e o som estourando as caixas acústicas e os meus tímpanos? Eu vou chamar a polícia. Fiz muito isto nos últimos anos. Pessoas que fazem questão de impor para todos seu gosto musical, suas preferências esportivas, sexuais ou políticas na rua, merecem ser execradas publicamente.
Dentro de três meses vamos nos mudar, mas há quase quatro anos minha esposa e eu estamos morando em um apartamento emprestado, que fica no primeiro andar de um edifício de 50 anos que tem no térreo dois botecos que são verdadeiras pocilgas. No raio de uma quadra contamos ainda com a distinta presença de várias casas noturnas, botecos, restaurantes e afins. Todos estes lugares servem bebidas alcoólicas para seus frequentadores, ou seja, são produtores de bêbados. Pessoas que, por dependência ou irresponsabilidade, vão parar na rua completamente alcoolizadas. Incapazes de andar sem ajuda. E muitas vezes ainda saem dirigindo. Normalmente a gente vê fotos destas pessoas nos jornais do dia seguinte, pois se envolvem em acidentes e morrem. E matam.
Nestas horas fico pensando na hipocrisia das nossas autoridades e da nossa sociedade. A maconha é proibida. A cocaína é proibida. A heroína é proibida. Outras substâncias consideradas “perigosas” são proibidas. Mas e o tabaco? Qual o custo social e o ônus ao sistema público de saúde para tratar pessoas com males oriundas do fumo?
E aqueles dependentes de bebidas alcoólicas? Li uma estatística que deixava claro que a maioria absoluta dos assassinatos e dos acidentes fatais são provocadas por pessoas alcoolizadas. Quantas famílias não foram destruídas por pessoas que se deixaram levar pela bebida?
E os viciados em açúcar? Quantos problemas cardíacos, problemas de coluna e quantas mortes não seriam evitadas se pessoas com dependência de doces não tivessem acesso à esta droga?
Entendeu o absurdo? Será que eu exagerei? Acho que não. As autoridades não querem resolver o problema do fumo ou do álcool. Claro. Recebem imensas contribuições em impostos e sofrem imensas pressões de lobistas para deixar a coisa como está. Para deixar as pessoas morrendo.
É por isto que a hipocrisia me incomoda. Provavelmente é maior o número de fatalidades geradas pela bebida do que todas as outras “drogas” somadas. Mas ninguém faz nada. Por que? Dinheiro. Alguém está recebendo. Muito dinheiro. E enquanto estas pessoas receberem, outras, fora do governo, fora da política, vão continuar morrendo.
Acho que a solução passa pela erradicação da hipocrisia. Ou libera tudo, ou proíbe tudo. Vamos pelo menos ser honestos com aquela pessoa que vemos no espelho todos os dias.

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2 Responses to Cerveja é droga?

  1. Marcus Amorim says:

    Concordo 100% com você, Fábio. Para mim, o álcool é a pior de todas as drogas e a que deveria ser controlada com maior rigor. Um cara que fuma um cigarro de maconha (eu não fumo) fica na sua e você só percebe se for “íntimo” da coisa. Com o álcool é bem diferente. O mal social causado é enorme, dentro e fora da família do “viciado”. Uma pessoa alcoolizada, normalmente, não respeita ninguém, nem a si mesmo.
    É por isso que quando alguém reclama do preço de qualquer bebida, eu digo que deveria estar muito maior.
    Não que eu não beba. Também gosto de uma caipirinha, ou uma boa taça de vinho, de vez em quando. Mas há muito tempo já aprendi o ponto limite entre estar se divertindo e se drogando.
    Bem, é isso aí. Também acho que ou se proíbe tudo, ou se libera tudo, com preços exorbitantes, onde os lucros fossem usados para curar os estragos.
    Inté
    Marcus

  2. mariana says:

    Não sou radical. Não acredito que liberar ou proibir tudo vá resolver.
    Acredito que o Fábio quis dizer que o que falta não é limite de uso de drogas e substâncias tóxicas, mas sim o uso do respeito para com o próximo.
    Não adianta jogar os preços na lua. Sempre haverão “genéricos” á venda.
    Quer se drogar. drogue-se! Longe de mim.
    Se estiver bêbado e quiser cantar: cante! Numa praia deserta há quilômetros da minha casa.
    Não me importa o que se faz, quando se faz e quem faz. Desde seja feito respeitando o próximo. Respeitando a si.

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