Geena

Queria contar que publiquei mais um livro.
Se chama Geena (editora PósEscrito 253 páginas R$ 28,00)
É um romance, escrito em parceria com Gabriel Campanholo. O lançamento ocorreu no dia 4 de setembro, no Unicenp. A editora PósEscrito é vinculada ao Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná e tem vários títulos na área de comunicação. O Geena é sua primeira incursão na literatura.
Sobre o livro, clique no link “leia mais” para o texto da Doutora em Literatura, Marilene Weinhardt.
O Geena está temporariamente à venda com exclusividade na Livraria do Eleotério, TEL: (41) 324-0308, situada à rua Amintas de Barros, 144 lj 2, Curitiba, CEP 80.060-200.
Enquanto a editora não firma seus contratos de distribuição nacional, vc pode também comprar comigo. Assim que seja confirmada a compensação do cheque ou o depósito em conta, eu mando um exemplar do livro por Sedex a cobrar. Detalhe: Autografado pelos dois autores. Sabe-se lá quando uma obra assim não vai valer no futuro, não é?
Tenho uma amiga, fotógrafa, chamada Isabelle Soares, que estava fazendo a cobertura do evento e acabou tirando algumas fotos. Este é o fotoblog dela. Veja duas fotos do lançamento. Na primeira estou com o amigo Aclélio Rocha.
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Nesta outra foto, com o Presidente do Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná, Prof. Alexandre Castro, Gabriel (co-autor), minha esposa Nancy, a professora Zaclis e o Aclélio (de novo… hehe)
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Geena: parceria afinada
dra. marilene weinhardt
Em tempos de fronteiras borradas é no caso do discurso literário isso quer dizer fusão de gêneros, de temas, de tipologias, de recursos narrativos é a interpretação de procedimentos já não é garantia de surpresa e muito menos de qualidade. O leitor de hoje, se já não vê na originalidade um valor inegociável, continua exigindo da arte, e agora talvez mais do que nunca, a densidade de um universo que tenha coerência interna. Densidade e coerência interna é o que não falta ao romance de Fábio Marchioro e de Gabriel Campanholo, Geena, ficção científica e romance social, sondagem psicológica e denúncia de práticas políticas cínicas e perversas.
Numa época em que a ficção parece cada vez mais escrita para um público especializado, a discussão sobre o processo de narrar explicitando-se a ponto de disputar espaço com o enredo, quando não se transforma ele mesmo em enredo, a história bem urdida, sem deixar à mostra suas costuras, talvez mereça ser festejada. Mas um enredo criativo não é, com certeza, a única qualidade do novo romance. O leque de leitores potenciais de Geena é bastante aberto.
O leitor que busca a trama de suspense, uma vez começada a leitura, não vai deixá-la por qualquer apelo do mundo que se situa além das capas do livro. A ameaça nuclear, com ecos da Guerra Fria, quando consegue evitar o tom de discurso requentado, contornando a condição de tributário das décadas passadas , permanece como um dos fantasmas do início do novo milênio. Um dos recursos para dar o salto além do longo pesadelo iniciado no final da Segunda Guerra já garante outra faixa de leitores. Lá estão as questões sociais, morais e éticas de um povo que se debate entre a busca de uma identidade e a herança de hábitos viciosos, além de viver a instância da pluralidade do que já foi moda denominar “arquipélago cultural”. Aí está o brasileiro, mergulhado em sua realidade até o pescoço, sem concessões, sem piedade inócuo.
Mas há o leitor que não gosta de lembrar que é brasileiro, ou já não vê motivos para considerar relevantes questões nacionais quando a globalização é a palavra de ordem do dia. Este também não ficará frustrado. Vale notar, de passagem, que o fio condutor inscreve o romance numa linhagem ” a ficção científica ” sem tradição expressiva na narrativa brasileira. Os autores não regateiam vivência além das fronteiras do país, apresentando cenários estrangeiros que primam pela precisão, quer do ponto de vista da paisagem, quer da caracterização do modo de ser dos habitantes do outro hemisfério. A câmara faz um sinuoso travelling pelo mapa mundi, vários primeiros planos em Curitiba e alguns closes no interior dos estados sulinos.
Aliás, o exame das possibilidades de leitura sofre mais um desvio de rota, para comentário de outra ordem. Traço que chama atenção logo nos primeiros capítulos, e é reforçado ao longo do texto, é o saber enciclopédico evidenciado. Descreve-se o espaço interno de um submarino informatizado com recursos de última geração, equipado para sofisticadas operações militares, com a mesma desenvoltura com que se disserta sobre qualidade e manutenção de vinhos ou sobre os efeitos particulares de determinados tipos de munição, passando pela narração de pormenores cotidianos de sitiantes paranaenses, com a mesma habilidade e força de verdade com que se colocam em cena artimanhas parlamentares e eleitoreiras de políticos americanos. Essa pode ser uma qualidade decorrente da autoria a quatro mãos, sem que se tenha resvalado na fratura de discurso, risco que ronda romances volumosos, mesmo quando trazem só uma assinatura. O tom se mantém, uno e denso, do começo ao fim.
O leitor que busca na ficção o ser humano e sua complexidade, vai ser atendido do começo ao fim do texto. Há personagens que vão se construindo e mostrando suas múltiplas facetas ao longo da narrativa. Os amigos Fantini e Udo são especialmente fortes e igualmente capazes de despertar nossa ternura, independente dos defeitos do primeiro e das qualidades do segundo. Há aquelas que aparecem episodicamente, mas nem por isso são despidas de humanidade: atente-se para o violinista Taras por exemplo é , avultando na contraposição com os estereótipos, de contornos nítidos num único traço, como o vestido marrom de uma funcionária, ou em algumas falas é assim, cada político e cada militar aparece de corpo inteiro no diálogo próximo à conclusão.
Já o leitor de faro detetivesco, que lá procurando o furo, a escorregadela, deve preparar-se para um trabalho árduo. Num mundo tão amplo, com tantas variáveis em tantos níveis, o deslize no enredo paira sempre como sombra pronta a se materializar. Geena é um mosaico que vai se fechando e formando desenhos bem delineados, e sobretudo impressionantes.
O certo é que leitores com mais baixos índices de satisfação serão aqueles que buscam na literatura apenas o entretenimento descompromissado, a reafirmação de suas visões de mundo acomodadas.
Ingredientes de origens tão ecléticas encontram seu ponto de sabor num bom domínio da narrativa. Afirmou-se, alguns parágrafos atrás, que esse romance é portador de um tom uno, o que não significa único. A pluralidade discursiva, traço distintivo do discurso romanesco, no Geena não recorre a recursos que rompam abruptamente com as convenções do gênero. As diferentes vozes aparecem quer diretamente na fala das personagens, quer quando o narrador se coloca na posição de filtro da ideologia das personagens, quer quando se manifesta um narrador erudito, distanciado. Entretanto, técnicas que marcam a ficção contemporânea não estão ausentes. Ainda que sem demonstrações de virtuosismo, a exploração de diversas formas discursivas aparece inclusive no emprego bem dosado de colagens, cujas escolhas também merecem atenção. A linguagem fria da tela do computador e o registro contido do informativo tradicional, na abertura e no desfecho, respectivamente, marcam o momento em que se instala o conflito e o momento em que a tensão começa a afrouxar. Entre um e outro, o tempo de inferno, de Geena.
Enfim, como é habitual no diálogo entre o texto crítico e as obras bem realizadas, qualquer tentativa de paráfrase, de resumo, sempre opera recortes fortuitos e sempre fica em débito com a criação. Se o leitor seguir as pistas aqui sinalizadas, encontrará muito alimento para seu imaginário, no meio do caminho e nas margens. É possível também que o texto ficcional brinde-o com revelações insuspeitadas ou somente vislumbradas nestas palavras.
Marilene Weinhardt – Doutora em Literatura Brasileira – USP

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1 Response to Geena

  1. Samuel says:

    Que legal! Há quase dois anos que ouço falar do casal Marchioro e só hoje os vejo em fotografia.
    Parabéns pelo lançamento do livro. Abraços pra você e pra Nancy.

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