Great minds…

Estava preparando o conteúdo do post abaixo sobre formas de escrever melhor (Dicas de Jornalistas) e me deparei com a dica (número 6) do jornalista Ricardo Setti (analista político e escritor):
Ler, ler, ler, ler, ler, ler – jornais, revistas, livros – ficção, muita ficção, e, claro, não-ficção também -, Internet, peças de publicidade, bulas de remédio, tudo, tudo, tudo.
O engraçado é que, há mais de três anos (abril de 2000), quando o Manual de Sobrevivência do Novo Escritor entrou on-line, publiquei lá um artigo sobre o assunto. Leia este parágrafo:
Leia jornais, revistas, livros de história, política, romances, ficção científica, policiais, bulas de remédios, letras de músicas, livros de contos e coletâneas de crônicas. Leia os clássicos. Todos os que são, todos os que serão, todos os que talvez sejam e a maioria daqueles que você tenha certeza que nunca serão. Na pior das hipóteses você vai aprender o que não fazer quando escrever um livro.
Não vou entrar aqui em uma estéril discussão sobre plágio ou expressão do senso comum. Já cansei de ver meus textos reproduzidos na internet sem minha autorização e sem meu nome. Já cansei de ouvir em rádios (em diversas cidades do Brasil) meus contos humorísticos reproduzidos como piadas.
Independente de quem tenha pensado, escrito ou expressado antes, gosto de pensar que, no caso das rádios e cópias de textos, se meu material não fosse bom, não seria copiado. E no caso das mesmas idéias colocadas por Ricardo Setti, vou com o ditado americano: Great minds think alike.
Meu artigo completo está no Leia Mais.


Leitura Recomendada
Fábio Marchioro
Se você deseja ser um escritor, pense assim: sua leitura obrigatória já está com um atraso de aproximadamente 6.000 livros.
Assustador? De forma nenhuma. É maravilhoso. Pense em tudo o que você ainda pode aprender, os detalhes das personagens que vai conhecer, todos os lugares, dos mais sagrados aos mais profanos, dos requintados aos vulgares, das cavernas aos palácios, das alcovas aos salões de baile, em que você será sorrateiramente admitido, simplesmente por ser um leitor. Quer conhecer a mente de um gênio? De um mineiro de carvão? De um assassino serial? Quer entender porque uma criança sorri quando pisa descalça na grama, ou porque um por de sol pode umedecer os olhos de um casal? Então não se apavore com o número acima, e leia. Se for mais fácil para você, pense que são 6.000 quilômetros da melhor viajem que já fez na vida, e que a cada centímetro desta estrada, às vezes asfaltada e sinalizada, às vezes completamente destruída e devorada por uma floresta assustadora, existe, não a possibilidade, mas a probabilidade de que coisas excitantes acontecerão.
A princípio, a recomendação de leitura para um escritor pode resumir-se em uma palavra: tudo. Leia tudo sobre tudo e sobre todos. Tenha um livro no porta-luvas do seu carro, na pasta que você carrega, no banheiro, na mesinha de cabeceira e na cozinha. Esqueci algum lugar? Tenha um livro lá também!
Leia jornais, revistas, livros de história, política, romances, ficção científica, policiais, bulas de remédios, letras de músicas, livros de contos e coletâneas de crônicas. Leia os clássicos. Todos os que são, todos os que serão, todos os que talvez sejam e a maioria daqueles que você tenha certeza que nunca serão. Na pior das hipóteses você vai aprender o que não fazer quando escrever um livro.
Leia em português, alemão, italiano, espanhol, inglês, francês, aramaico, iídiche… leia em todas as línguas que você conheça. Se você só entende português, leia mais em português.
Imagine-se como um lago. Profundo, imenso e que tem uma capacidade infinita para receber mais e mais informação. O excesso, aquilo que não fará diferença para sua vida ou sua carreira, aquilo que passou e foi rejeitado pelo seu senso crítico, como uma pequena ondulação feita por uma brisa inconseqüente na superfície do lago, deixe evaporar. Mas aquela onda, aquela vaga, aquela frase, aquele conceito, aquela obra ou aquela palavra que cai lá no meio do lago com espalhafato, chamando sua atenção, leve imediatamente para a sua parte mais profunda, ancore e a mantenha lá. Pode ter certeza que, de uma forma ou de outra, aquilo vai ser útil algum dia.
Lembre-se que quanto mais você ler mais vai aprender. Mas a maioria dos livros escritos em português sobre a arte de escrever (tenha certeza disto: ESCREVER É UMA ARTE) são produzidos por acadêmicos, orientadas a um leitor acadêmico que vive uma verdade acadêmica. Normalmente são muito distantes da realidade do mercado editorial e especialmente daquela peça fundamental no processo de publicar um livro: o leitor. É para ele que todos as gotas do seu suor, todos os seus insights, todos os seus sorrisos, sonhos e lágrimas têm que estar direcionados.
Tenha certeza de uma coisa: existem grandes autores brasileiros e portugueses. Apesar de serem de leitura obrigatória, não me refiro somente a escritores como Machado de Assis, Luis de Camões, Guimarães Rosa (maravilhoso), José de Alencar, Carlos Drumond de Andrade ou Jorge Amado. Vá até a biblioteca ou livraria mais próxima e procure obras de romancistas, cronistas, contistas, dramaturgos ou poetas, como Mário Palmério, Marcelo Rubens Paiva, José Roberto Torero, João Gilberto Noll, Luiz Fernando Veríssimo, Monteiro Lobato, Valêncio Xavier, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles, Lima Barreto, Dalton Trevisan, Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Hilda Hist, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, José Saramago, José Paulo Paes, Fernando Pessoa, Nelson Rodrigues, Érico Veríssimo, Clarice Lispector…
Mas não se esqueça e, só porque eles são estrangeiros, não tenha vergonha de dizer que gosta, de autores como Umberto Eco, Gabriel Garcia Márques, Jane Austen, Italo Calvino, Charles Dickens, Anton Tchecov, E. E. Cummings, T. S. Eliot, Dante Alighieri, F. Scott Fitzgerald, a família Brontë, Ambrose Bierce, Hemingway, Victor Hugo, Twain, Thoreau, Tennessee Willians, Proust, Tolkien, Melville, Joyce, Hesse, Tolstoy, Julio Verne, Thomas Mann, Emile Zola, Dostoievsky, Albert Camus, Henry Miller, Rushdie, Jorge Luiz Borges, Boccaccio, Balzac, Platão, Gibran, Stendal, Anthony Burgess, Ayn Rand, Maugham, Greene, Huxley, Steinbeck… você terá também que ler o maior número possível das obras de William Shakespeare… ou pelo menos ver alguns dos filmes sobre a sua obra. E se prepare para uma surpresa: se você assistir as versões dirigidas por Keneth Branagh, você vai simplesmente adorar. Mas…
… lembre-se de ler ainda Carl Sagan, Ken Follet, Antoine de Saint-Exupéry, Spencer Lewis, Frederick Forsyth, Richard Bach, Isaac Asimov, James Michener, o Kama Sutra (ilustrado é melhor), Tom Clancy, Frank Herbert, James Clavell, David Morrel, Robert Ludlum, Arthur C. Clarke; leia o Tao Te King de Lao Tsé, o evangelho de Jesus Cristo, a Bhagavd Gita, Alan Kardek, Jung… e quantos eu deixei de fora desta lista que estaria apenas começando…
Nunca encontrei uma relação específica dos melhores livros para escritores e, todos aqueles que tiveram a infelicidade de cruzar meu caminho acabaram nas minhas estantes, condenados eternamente a ouvir blues, Beethoven e respirar incenso. Assim, só posso indicar os que eu li e que, de uma forma ou de outra, me ajudaram. Entre eles estão livros de teoria literária, gramática, estilo e até simples manuais do tipo “Como escrever um romance…”
É provável que a maior parte deles ainda esteja à venda, mas acredito que será mais fácil encontrá-los em uma livraria virtual como Submarino, Cultura, ArtePauBrasil, Barnes & Noble ou Amazon. Não estão em nenhuma ordem especial, a não ser a “desordem” em que se encontram na prateleira mais próxima do meu computador.
Meu inglês é muito bom, meu espanhol é passável mas eu não falo francês, italiano… nem aramaico. Assim, é fácil notar uma predominância de obras em português, inglês e espanhol. Com certeza, se você domina outros idiomas, e procurar, vai encontrar publicações neste mesmo estilo.

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5 Responses to Great minds…

  1. Rodrigo Bernardini says:

    Puxa Fábio vc escreve coisas que me emocionam muito parabens

  2. Laura says:

    Ainda bem que encontro alguém com a mesma perspectiva do que eu. Finalmente! Quando comento que gosto muito de escrever, a primeira pergunta que surge é: “Então e o que lês?”. Quando respondo que, apesar de poder não estar muito vocacionada para ler grandes romances naquele momento, gosto de ler de tudo, a reacção costuma ser uma verdadeira surpresa. É difícil chegarmos ao pé de alguém e tentarmos explicar que a leitura é tão importante para nós que até nos deliciamos a ler os tais rótulos nos medicamentos, os rodapés nas revistas, as crónicas, a publicidade pelas ruas, as capas dos CDs, as notícias, os comentários dos leitores, os emails, as mensagens no telemóvel, os folhetos que nos impingem nas ruas, os relatórios de trabalho feitos pelas pessoas que vivem connosco, etc. “Como é possível?” – perguntam-me sempre. Há constantemente a teoria de que ler é agarrar em obras enormes e lê-las. Mas é errado pensar deste modo. Se estivermos atentos, àvidos por aprender sempre um pouco mais, dispertos para o que nos rodeia, podemos enriquecer o nosso leque literário e aumentar o nosso horizonte com leituras aparentemente tão basilares quanto estas. E, depois, claro que é estranho perguntar a um pseudo-escritor o que é que costuma ler, ou que livros tem na famosa mesa de cabeceira, e receber uma lista de dois ou três apenas. “Só?” – perguntam, enquanto os olhos esbugalhados nos fitam com pavor. “Claro que sim. A leitura não incide apenas nos romances. Tudo o que existe, à nossa volta, pode ser interpretado e, em tudo, podemos encontrar um ponto essencial”. Mas o desnorteamento de quem nos ouve torna-se cada vez maior. Enfim, não há nada a fazer…
    Em suma: Parabéns pela sua crónica!

  3. cleiser schenatto langaro says:

    gostaria de receber contos de Dalton Trevisan, Ruben Braga, Marina colassanti, Milor Fernandes, Stanislaw Ponte Preta, em nível de alunos de 4ª série do ensino fundamental, pois sou professora e pretendo trabalhar esse tipo de texo com eles, desde já agradeço.

  4. Giuliano Gimenez says:

    ler, ler, ler. ler de tudo e tudo. mas é claro, não esquecer dos grandes. Machado, Trevisan, Drummond, Quintana, Nelson Rodrigues, Adelia Prado, Pessoa(maravilha), Saramago… puxa são tantos que esqueço de todos. Jamil(mais um do paraná), Leminski, jose paulo paes, Machado, muito Machado.
    Edgar Allan Poe, Dostoieviski, Kafka… uau! Baudelaire(aceita um raxixe?).
    Diogo Mainardi e Roberto Pompeu de Toledo – estes dois sendo a única razão de se ler a Revista Veja.
    Ver o que a literatura faz com o ser humano: deixando-o mais sensível, crítico, capaz de atitudes inesperadas. um autêntico. a literatura transforma a pessoa de uma maneira que as outras pessoas se assustam.
    “OS BONS SABEM DE MUITOS SEUS ERROS, OS MEDÍOCRES NÃO SABEM COISA ALGUMA”
    DALTON TREVISAN

  5. Bruna says:

    vc tem aquele poema concretista do Jose Paulo Paes, ELE ELA???

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